“Não tenho certeza se haverá acordo”, admitiu o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a familiares de reféns, depois que os corpos de seis sequestrados levados vivos para Gaza foram retirados de um túnel em Khan Yunis. A declaração destoa do otimismo dos EUA propagado pelo secretário de Estado Antony Blinken, hoje no Catar, depois de visitar Jerusalém e Cairo. O Hamas já rejeitou a nova proposta.
A surpresa está na manchete do jornal Haaretz digital: “Apesar de Gaza, Netanyahu lidera as pesquisas de novo. Ele deve agradecer ao Irã”. Por mais desastrosa a conduta do governo nos últimos dez meses, segundo a oposição, a ameaça de guerra com o Irã muda o cenário político israelense. Favorece ao Mister Segurança, o outro apelido de Bibi.
O jornal New York Time desta terça-feira reflete a duplicidade reinante sobre o “acordo dos reféns”, como ficou conhecido em Israel. O otimismo americano contrasta com o tom muito diferente de israelenses e palestinos do Hamas. “Ambos os lados jogaram água fria na ideia de que um acordo poderia ser iminente, porque os esforços dos mediadores não conseguiram resolver algumas das disputas mais substantivas”.
O impasse está na insistência de Netanyahu em manter tropas no corredor Filadelfia, entre Gaza e Egito, o que é rejeitado pelo Hamas, egípcios e até pelo ministro da Defesa Yoav Gallant, que alega ter alternativas para controlar o contrabando de armas que não a presença física militar. Outro impasse é a revista em busca de armas dos milhares de deslocados que estão no sul voltando para suas casas ao norte.
A “ponte” sobre as divergências foi denunciada pelo Hamas por “favorecer” a Israel. Vazou que a alternativa para a presença militar no Corredor Filadélfia seriam patrulhas indo e vindo pela fronteira. A posição palestina é radical: nenhum soldado em Gaza para o acordo ser aprovado. Enquanto Blinken voava do Cairo para o Catar, nesta terça-feira, o Hamas denunciou, num comunicado, “as afirmações enganosas” do governo Biden sobre as negociações. A última proposta à mesa equivale a “uma reversão” da que foi apresentada, e aprovada, no início de julho.
A retaliação pelas mortes de líderes do Hamas e do Hezbollah, em Beirute e Teerã, foi suspensa à espera de um acordo em Gaza previsto para “a cúpula da última chance”, como foi batizada a rodada de negociações que terá mais um de seus pontos altos nesta sexta-feira. Mas o Hezbollah não parou de bombardear o norte de Israel. Durante a madrugada e na manhã de hoje, mais de 75 foguetes e morteiros foram disparados, numa reação a explosão de um arsenal de armas pela aviação israelense no Vale de Bekaa, no Líbano central.
Putin quer a Ucrânia fora da Rússia até 1º de outubro
O chefe do Estado-Maior da Ucrânia anunciou que suas tropas já controlam 1.263 quilômetros quadrados do distrito de Kursk, na Rússia, na ofensiva surpresa que começou há 14 dias. O território conquistado é maior do que o invadido pelo exército russo em toda as frentes ucranianas desde o começo deste ano.
O avanço da Ucrânia ficou mais lento, porém é contínuo. O presidente Putin ordenou ao seu Ministério da Defesa uma limpeza ucraniana de toda a região de Kursk até 1º de outubro.
A Ucrânia permitiu a entrada de jornalistas em seus centros de detenção de soldados russos. São jovens conscritos, inexperientes, mal armados, às vezes com apenas uma pistola, e estão sendo bem tratados como moeda de troca entre prisioneiros. A última troca ocorreu em julho, com 190 prisioneiros de ambos os lados.
O presidente Zelensky declarou a diplomatas em Kiev, na segunda-feira, que “essa operação (Kursk) é o nosso maior investimento no processo de libertação de homens e mulheres ucranianos do cativeiro russo”. E arrematou: “Já capturamos o maior número de prisioneiros russos até agora em uma única operação”.
Pela lei russa, os recrutas com menos de quatro meses de treino não devem ser mobilizados para combate. A maioria se rendeu sem reagir quando confrontados com as forças ucranianas. O total de soldados capturados é calculado em 2 mil. Abaixo-assinados de 10 mil familiares apelam ao presidente Putin “a salvar as vidas dos soldados que não estão preparados para a ação militar”. Lembram também de “promessas de que eles não participariam de combates”.
Um dos objetivos da invasão ucraniana na Rússia seria o de obrigar a transferência de forças russas que pressionam a Ucrânia a oeste. Mas isso não ocorreu, até agora, com o Kremlin decidindo pelo envio dos recrutas.
Estados Unidos se preparam para um novo cenário nuclear
Uma estratégia nuclear secreta foi aprovada pelo presidente Joe Biden, em março, levando em conta que a China vai ter um arsenal nuclear do tamanho e da diversidade dos EUA e da Rússia nos próximos dez anos.
O registro da mudança não tem cópias eletrônicas, só algumas poucas impressas, distribuídas a alguns membros do Pentágono e da Segurança Nacional. Mas “vazou” em duas frases autorizadas em discursos recentes. O jornal New York Times foi atrás e publica nesta terça-feira a “Orientação de Emprego Nuclear”, que será notificada ao Congresso antes que o presidente Biden deixe o cargo.
“O presidente emitiu recentemente uma orientação atualizada sobre o emprego de armas nucleares para levar em conta vários adversários com armas nucleares”, disse Vipin Narang, um estrategista nuclear do MIT que serviu no Pentágono, no início deste mês, antes de retornar à academia. ‘E em particular’, ele acrescentou, a orientação sobre armas levou em conta ‘o aumento significativo no tamanho e na diversidade’ do arsenal nuclear da China” – escreveu o Times.
A outra frase a aludir à mudança da estratégia nuclear americana foi dita pelo diretor sênior de controle de armas e não proliferação do Conselho de Segurança Nacional, Pranay Vaddi. Ele examinou se os EUA estariam preparados para responder a eventuais crises nucleares, e explicou “a necessidade de dissuadir a Rússia, a RPC (República Popular da China) e a Coreia do Norte simultaneamente”.
O perigo é visível: Rússia e China fazem exercícios militares conjuntos. Suspeita-se, também, que a Rússia colabore com os programas de mísseis do Irã e da Coreia do Norte. A conclusão do Times: “O novo documento é um lembrete claro de que quem quer que seja empossado em 20 de janeiro enfrentará um cenário nuclear alterado e muito mais volátil do que o que existia há apenas três anos. ”