Moisés Rabinovici: Netanyahu no banco dos réus

Primeiro-ministro israelense nega suborno e interferência na mídia

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu minimizou todas as acusações pelas quais começou a ser julgado nesta terça-feira, no Tribunal Distrital de Tel Aviv. “Odeio champanhe”, ele disse, para rebater o “suborno” contínuo de champanhe e charutos fornecido pelo magnata do cinema Amon Milchan, avaliado em 200 mil dólares (ou cerca de 1,3 milhões de reais).

“Mas gosto de um bom charuto” — ele acrescentou, muito embora nunca tenha tempo para desfrutá-lo, trabalhando “18 horas por dia, e tendo que almoçar na mesa do gabinete”. Tentativa de suprimir a imprensa? Não, desmentiu: ele quer, ao contrário, “um livre mercado de opiniões”. Num país em que
“2/3 do público se define como de direita… 90% da imprensa é de esquerda”.

Netanyahu foi interrompido algumas vezes por assessores que lhe entregaram um papel. Algo urgente que demandava uma resposta imediata. Então, ausentava-se por instantes, e depois voltava a se defender, na primeira parte do julgamento que precede aos interrogatórios. “Estou liderando um país em guerra em sete frentes”, explicou à audiência que lotou o tribunal. Do lado de fora, manifestantes pediam a libertação dos reféns em Gaza. “Uma mudança tectônica não vista em um século ocorreu. Isso exige equilibrar as necessidades do julgamento, o que eu reconheço, e as necessidades do país”, ele acrescentou.

Mais de uma vez Netanyahu disse que, “se fosse de esquerda”, não seria réu. “A acusação é politicamente motivada”, repetiu o advogado de defesa Amit Haddad, ao apresentar o que considerou falhas no processo. Uma das acusações é a de que o primeiro-ministro beneficiou o portal de notícias Walla para ter boa cobertura. Ele riu. Chamou a Walla de “sem importância”, um lugar de consulta para saber onde é melhor cortar o cabelo. “Um site de gatos e cães…”

Atualmente, e isso não está no processo de corrupção e suborno a que responde, Netanyahu adotou medidas hostis contra o jornal Haaretz. Ele lembrou que em 1982, nomeado vice-chefe na Embaixada de Israel em Washington, o Haaretz o criticou por sua profissão anterior, vendedor de móveis.
“Eu tinha vendido móveis [e o artigo dizia] ‘o que isso tem a ver com os Estados Unidos? O que ele sabe sobre isso?’ Meritíssimo, eu não dormi por uma semana. Como eles puderam dizer algo assim? E à medida que a consulta avançava e o título aumentava, tinha cerca de meia página, e eu não conseguia dormir.”

O jornal Haaretz informou nesta terça-feira que foi aos arquivos, encontrou o artigo mencionado, mas que ele não contém nenhuma informação sobre o vendedor de móveis Netanyahu, publicada quatro anos depois, em 1986, no contexto de um perfil positivo.

Netanyahu também é acusado de dar benefícios regulatórios à maior empresa de comunicações de Israel, Bezeq, cujo acionista controlador, Shaul Elovitch, é dono da plataforma Walla. “Ao longo dos anos”, ele se defendeu, “assinei centenas, milhares de documentos… Muitas vezes nem sei do que se trata”. E acrescentou: “Eu assinei dois benefícios regulatórios sem entender, sem capacidade de resposta especial e sem cobertura positiva.”A audiência prossegue nesta quarta-feira.

Yedioth Ahronoth
Times of Israel
Haaretz
Jerusalem post

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Curdos ameaçam a unidade da “nova Síria”

Um combate violento entre curdos apoiados pela Turquia e curdos apoiados pelos Estados Unidos, nesta terça-feira, perto de Kobani, na Síria, mostra como grupos armados com diferentes interesses podem romper a unidade dos rebeldes que derrubaram o ditador Bashar al-Assad no domingo.

Outra erupção de violência foi registrada em Homs pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos, em Londres: combatentes do Estado Islâmico teriam matado 54 pessoas em fuga de Damasco, suspeitos de ligação com a ditadura derrotada.

O mais grave do confronto entre curdos inimigos é que os Estados Unidos e a Turquia, aliados da OTAN, estão se opondo na Síria. Aviões turcos apoiaram o ataque por terra de seus curdos em Kobani, segundo o porta-voz das forças americanas, Farhad Shami.

Os curdos aliados às forças americanas lutaram contra o Estado Islâmico e eram conhecidos como Unidades de Proteção do Povo, rebatizadas como Forças Democráticas Sírias, uma ramificação do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, ou P.K.K, que quer a autonomia curda na Turquia, que os considera uma organização terrorista. O secretário da Defesa americano, Lloyd J. Austin III, falou com seu homólogo turco, no domingo, para organizar uma “estreita coordenação”.

Em mensagem aos rebeldes que estão formando um novo governo na Síria, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, propôs o estabelecimento de relações de paz, ao mesmo tempo em que advertiu: “Se este regime permitir que o Irã se restabeleça na Síria, ou permitir a transferência de armas iranianas ou quaisquer outras armas para o Hezbollah, ou nos atacar, responderemos com força e cobraremos um preço pesado”. A mensagem de Netanyahu foi precedida de 322 ataques da força aérea e da marinha israelense contra a base naval de Latakia e centenas de arsenais de mísseis, drones, helicópteros, fábricas de armas químicas, aeroportos militares, radares e sistemas de defesa aérea, desde domingo, quando Bashar al-Assad foi derrubado. Fotos circulando nesta terça-feira mostram navios afundados, fuselagem de caças e prédios destruídos.

A operação de Israel foi batizada de Flecha Bashan, o nome bíblico para a região ao leste do rio Jordão, Basã, entre o Monte Hermon e o rio Yarmuque. Aqui, Israel, no sábado, avançou pela primeira vez desde 1973 em território sírio, ocupando o lado da Síria da zona tampão de 250 quilômetros quadrados. A ofensiva levou a boatos de que as tropas israelenses marchavam para Damasco, o que foi logo desmentido. “Por enquanto estamos lá, mas definimos essa etapa como limitada e temporária”, explicou o primeiro-ministro Netanyahu, sob a justificativa de proteger Israel.

A Flecha Bashan destruiu 70% da capacidade militar deixada pelo ditador al-Assad, segundo militares israelenses.

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